quinta-feira, abril 28, 2011

Belonging : um pequeno balanço

© Robert Day
Hello Pertencia
Mais uma fase concluída, desta desafiante produção e desta vez por terras de sua majestade. Regressamos com a ideia reforçada que investir neste género de experiências, torna-mos mais ricos e simultaneamente menos receosos quando alguém pensa que o teatro tem dificuldade de comunicar através do texto, sem ter de recorrer às novas tecnologias (legendas), o que para nós lhe tira beleza estética. A solução passa sempre por sermos criativos e estruturar as ideias a pensar nesse pressuposto.
Passamos cinco semanas em Inglaterra a apresentar espectáculos, de norte a sul do país, passando inclusive pela ilha de Jersey. Este ritmo por vezes um pouco cansativo permitiu-nos perceber no terreno os hábitos teatrais das pessoas, que nos pareceram mais definidos. O facto dos horários dos espectáculos serem mais cedo, proporciona uma troca de impressões mais tranquila com o público no final. Sobre as condições físicas e técnicas dos teatros onde apresentamos, a ideia com que ficamos é que esses espaços dispõem na sua maioria um bom equipamento técnico, o que não quer dizer que se tire total partido dele, por vezes o dispositivo das salas não permite rentabilizar esse mesmo equipamento, por serem salas antigas e menos versáteis.
Cada apresentação é por natureza um momento único, o que torna o teatro uma arte tão universal, que ultrapassa qualquer barreira politica ou cultural. A sensação vivida no palco antes e depois do espectáculo faz-nos esquecer onde estamos e para quem estamos, apenas olhamos à nossa volta e vemos tudo o que já nos é muito familiar. As reacções que sentimos durante o espectáculo, vindas do outro lado do palco não sendo sempre nas situações a que já nos tínhamos habituado, sustentam na mesma forma o nosso personagem e dão força às nossas palavras ditas em português. A emoção de cada momento que atravessa o espectáculo permite-lhe soltar as palavras sem que seja necessário entende-las no seu todo. A sonoridade dessas palavras provoca um diálogo fluido e simples (há coisas que não precisam de ser ditas para se sentirem).
Todo este universo que envolve o espectáculo transformou-o em algo tão simples e tão normal em qualquer parte do mundo.
O respeito e o entusiasmo que o público inglês manifestou durante e depois do espectáculo é uma boa resposta a que nada está preso a nada, que o facto de sermos de uma pequena aldeia (perdida), numa serra portuguesa em nada enfraquece o nosso trabalho, somos profissionais e ser humanos, no fundo é só isso que o teatro precisa.
Podemos também constatar, que a afluência do público não andou muito longe da que estávamos habituados, o que nos surpreendeu é que esse público na sua larga maioria era de idade avançada. A nossa expectativa era um pouco mais optimista, esperáramos um público mais heterogéneo, dadas as tradições que o país tem.
Destacamos dois aspectos que nos marcaram de certa maneira.
O primeiro tem a ver com as relações humanas que continuam muito sólidas. São estes afectos tão importantes em palco e fora dele. Não é fácil duas companhias de dois países de línguas diferentes, trabalharem intensamente salvaguardando sempre o bem-estar do grupo e com isso aumentando a qualidade artística do projecto.
O outro aspecto foi a apresentação em Jersey, onde esteve presente um número significativo da comunidade portuguesa, de repente até parecia que tínhamos voltado a casa. Foi muito interessante falar com eles no final e perceber que as sensações vividas por eles durante o espectáculo, foram tão idênticas a todos os outros públicos desde Hereford a Jersey, o que nos deixa contentes, porque o teatro não pode estar ao serviço de códigos ou tradições.

Abel Duarte, Calos Cal, Eduardo Correia e Paulo Duarte


“Belonging” regressará a Portugal para três apresentações no Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa) nos dias 17, 18 e 19 de Junho deste ano. 

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